Uma amizade improvável entre duas empresas, uma responsável por vender o que há de mais clássico no barbear (navalhas, sabonetes de barbear de alta qualidade, muitas coisas importadas de alto nível), o Shave Place, e outra uma startup com uma pegada brasileira, mais "moderna", a VITO.
Essa amizade, que virou (insira aqui um termo melhor que parceria - quem aguenta esses eufemismos em que 95% das vezes significam "me dê o que é seu de graça e tome o que é meu pagando uma nota"), suscitou uma reflexão sobre o barbear clássico e ideias digamos mais "modernas" em relação ao cuidado pessoal.
Já abordamos por aqui a discussão sobre se o mundo era melhor no passado e pioramos, ou se era ruim e melhoramos. Recentemente ouvi em um podcast uma ideia muito boa sobre isso. Para além do efeito meia noite em Paris, a discussão era sobre se a música no passado era melhor do que no presente.
Pelé vs Messi, Rolling Stones vs Beatles e por aí vai, comparações atemporais sempre existiram e o que eu ouvi no podcast fez muito sentido. Era um sujeito dizendo que no passado a música era muito melhor, comparando Beethoven com algum MC do funk dos dias atuais.
Um meme clássico de avôs e avós dizendo que no tempo deles tudo era melhor.
E foi aí que veio o argumento mais razoável da discussão: o que temos hoje disponível do passado é uma seleção do que sobreviveu, do que o tempo e as pessoas filtraram.
Enquanto o que temos do presente é a "base completa", sem filtros, e que eventualmente só no futuro mais distante poderemos entender as eras e comparar, assim como acontece nas análises, por exemplo, sobre arte moderna, contemporânea e arte clássica.
Então chegamos ao ponto principal: o barbear clássico é superior às novas tendências?
Sabemos que é uma comparação muito difícil, justamente por que o que existe de "moderno" é basicamente uma resposta sobre o que o antigo/clássico não conseguiu "manter". Um exemplo é um aparelho de safety razor vs uma lâmina descartável que você encontra em qualquer farmácia. A lâmina descartável "substituiu" a safety razor, mas não necessariamente porque é superior ao que existia no passado, mas simplesmente porque pode atender melhor um público específico que não tinha essa opção.
Então na discussão entre moderno e clássico existem outras perguntas a serem feitas, como por exemplo qual é o seu interesse/tempo em manter e cuidar de uma safety razor, quais as características da sua pele e dos seus pêlos do rosto e o quanto você prioriza qualidade vs conveniência.
No fim das contas, as escolhas nem sempre são sobre o certo ou errado, bom ou ruim, mas sobre quanto valorizamos algo (nesse caso o processo do barbear) e quanto queremos investir de dinheiro e tempo nessas coisas.
E, uma vez que o dia de todo mundo tem 24h, escolhas do tipo pesam muito em como gostamos de no sentir e quanto tempo vamos nos dedicar a elas.
1 comentário
Excelente texto/reflexão sobre a busca do melhor, o que é melhor para mim pode não ser o melhor para o outro, o que não é acessível para mim pode ser para o outro. E o quanto isso (fazer a barba, imagem pessoal, ouvir uma boa música, arte, etc.) é importante a ponto de dedicar tempo!